segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Resposta da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC)

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social enviou-nos sua resposta, na qual decidiu por não tirar o programa Café Central e a personagem Gina do ar. Os argumentos para a decisão foram: a liberdade de expressão; tratar-se de programa humorístico; todos os personagens jogarem com caricaturas; e, a personagem Gina ser uma portuguesa que se passa por brasileira. Anteriormente já emitimos nossas discordâncias com relação a esses argumentos (vejam post anterior com resposta ao Programa Voz do Cidadão). Pensamos que, de qualquer forma, temos vitórias! A ERC ouviu-nos, analisou e respondeu a nossa reivindicação. Já a RTP, através do programa A Voz do Cidadão, apesar de não ter procurado ouvir o que tínhamos a dizer, teve o cuidado em analisar o caso. A grande mídia, a ERC e a sociedade portuguesa não puderam simplesmente nos ignorar! Somamos mais de 1.200 assinaturas, mais de 20 organizações, 500 pessoas num grupo de discussão, 7 Representantes dos Brasileiros no Exterior! 
E isso é uma vitória!!
Mas a luta continua! 

domingo, 13 de novembro de 2011

A voz do Cidadão RTP - Entre críticas e comemorações!


O programa A Voz do Cidadão da RTP exibiu, em 12/11 um programa em resposta à nossa denúncia de estigmatização que faz da mulher brasileira, pela personagem GINA do programa CAFÉ CENTRAL, exibido pela RTP 2.
Julgamos tal feito uma vitória, pois conseguimos fazer com que nossa denúncia tenha sido ouvida pelos meios de comunicação, atingindo um número maior de pessoas e contribuíndo para a sensibilização do problema. Anteriormente, o estigma da brasileira nem era discutido, agora pelo menos foi levado à televisão e à imprensa escrita.
Porém ainda que reconheçamos a importância desse fato, não podemos deixar de pontuar algumas críticas:
- O provedor falou do Manifesto, das 21 associações que nos apóiam, mas NÃO realçou as mais de 1.000 assinaturas que arregimentamos a favor da nossa Petição;
- A coordenação do Movimento NÃO foi contactada para esclarecimentos;
- O Programa Café Central é um caso em muitos, onde a comunicação social cria e reproduz a estigmatização das brasileiras;
- Mudar a nacionalidade da personagem Gina para portuguesa, não cala nossas críticas, pois como temos demonstrado, somos contra todas as formas de opressão e exploração das mulheres e o estereótipo do que, supostamente, é ser brasileira continua mantido.
- Por fim achamos importante demarcar que nós da coordenação do Manifesto somos a favor da liberdade de expressão, mas repudiamos todo tipo de manifestação (inclusive no humor) que desqualifique, diminua ou discrimine qualquer grupo ou coletivo.
Como dito anteriormente, apesar de nossas críticas e ressalvas, acreditamos ser essa uma vitória que deve ser comemorada. Mostramos não só que a comunidade brasileira está atenta para a maneira como vem sendo tratada e, principalmente, está pronta para agir sempre que necessário for.
Esse é só o começo!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Resposta da Rádio e Televisão Portuguesa (RTP)

 


Estimados telespectadores(as),

Em nome do Provedor do Telespectador, agradeço os e-mails que nos enviaram.

Foram dirigidas a este Gabinete algumas queixas de telespectadores que se insurgiram contra a personagem “Gina”, do programa Café Central. Depois de considerar todos os reparos recebidos, o Provedor entendeu dedicar um programa Voz do Cidadão a esta temática.

Serve o presente e-mail para informá-lo(a) que o programa será emitido no dia 12 (sábado), às 21h, na RTP1.

Renovo os meus agradecimentos pela vossa colaboração.
Com os meus melhores cumprimentos,

Pel’O Provedor do Telespectador da RTP

Vera Furtado
Gabinete de Apoio aos Provedores da Rádio e Televisão públicas
vera.furtado@ext.rtp.pt

Twitter RTPprovedor


Av. Marechal Gomes da Costa, 37
1849-030 Lisboa - Portugal
Tel.: (+351) 217 947 000 | www.rtp.pt

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Resposta da Embaixada do Brasil em Lisboa






Prezados(as) Senhores(as) Responsáveis pelo Manifesto,
a Embaixada agradece o contato. O Embaixador do Brasil em Portugal está informado do caso e do manifesto e está tomando as devidas providências no sentido de alterar a situação referente à vinheta "Café Central", veiculada no canal RTP2, tendo motivos suficientes para acreditar que suas gestões serão bem sucedidas.
atenciosamente,

Diogo Mendes de Almeida
Setor de Imprensa e Assuntos Jurídicos
Embaixada do Brasil em Portugal
Embassy of Brazil in Portugal
Tel (+351) 21 724 8512 - Mob (+351) 91 085.9142
diogo.almeida@embaixadadobrasil.pt
diogo.almeida@itamaraty.gov.br

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Resposta do ACIDI - Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, I. P



Exmos. Senhores,

Muito Obrigado pelo e-mail infra.

Encarrega-me sua Excelência a Senhora Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural de informar de que no decurso do mês de Setembro de 2011, já tínhamos recebido uma denúncia relativamente ao conteúdo do programa da RTP2 – Café Central – no que concerne ao tratamento estigmatizante que foi dado à mulher brasileira. Nesse sentido, conforme cópia da carta em anexo, reenviámos de imediato a referida denúncia à Entidade para a Regulação da Comunicação Social, uma vez que, de acordo com a lei, trata-se de uma matéria compreendida no âmbito das suas atribuições.

Desta forma, aguardamos uma posição por parte da referida Entidade.

De qualquer forma, aproveitamos para reafirmar, conforme comunicado publicado em 2008, disponível em http://www.cicdr.pt/images/stories/pdfs/comunicado_humor.pdf , o entendimento da Comissão para a Igualdade Contra a Discriminação Racial (“CICDR”) quanto aos deveres que decorrem do princípio legal da igualdade de tratamento de todos os cidadãos através da ausência de discriminação, directa ou indirecta, no que concerne especialmente a peças humorísticas. Assim, reafirmamos a necessidade de uma maior consciencialização por parte de todas as entidades, inclusivamente a Comunicação Social, para o cumprimento de algumas regras que julgamos ser relevantes na luta contra a xenofobia e o racismo, evitando, deste modo, injustas estigmatizações de cidadãos de nacionalidades estrangeiras junto da opinião pública.

Com os melhores cumprimentos

Vasco Malta
Jurista - Legal Adviser


ACIDI - Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, I. P
Rua Álvaro Coutinho, 14
1150-025 LISBOA

Telefone: 21 810 61 00  Fax: 21 810 61 17

O ACIDI, Instituto Público na dependência directa da Presidência do Conselho de Ministros, tem como missão colaborar na concepção, execução e avaliação das políticas públicas, transversais e sectoriais, relevantes para a integração dos imigrantes e das minorias étnicas, bem como promover o diálogo entre as diversas culturas, etnias e religiões.
Mais informações em: www.acidi.gov.pt

domingo, 9 de outubro de 2011

O preconceito como ele é: depoimento em primeira pessoa.

Depois de tantos currículos enviados fui chamada para uma entrevista de emprego em uma loja de bolsas chamada D & J no Ferrara Plaza, Paços de Ferreira. Fiquei contente porque ja havia deixado centenas de currículos e ainda nao havia conseguido nada. Nas lojas sempre me diziam que não contratavam brasileiras, somente na praça de alimentação. Pois bem, me arrumei e cheguei no horário marcado. O entrevistador quando me viu fez um cara de desaprovação e antes de começar a entrevista me pediu desculpas mas que nao havia reparado no meu CV que eu era brasileira, pois se tivesse visto não teria nem me chamado para a entrevista. Disse que não tinha autorizaçao para contratar brasileiras. Assustada eu perguntei o motivo e ele disse que era porque as portuguesas não gostam de entrar na loja quando a vendedora é brasileira. Nem preciso dizer como eu me senti naquele momento ne? Com os olhos em lágrimas, so consegui dizer a ele que proxima prestasse mais atenção no CV para evitar esse tipo de constrangimento.

sábado, 8 de outubro de 2011

AGRADECIMENTO

Car@s Companheir@s,

nós do Manifesto contra o preconceito a Mulheres Brasileiras em Portugal gostariamos de agradecer imensamente a vossa solidariedade ao nosso movimento.

Como bem cantava Beto Guedes, "um mais um é mais que dois".

Conseguimos o apoio de 21 Associações e Movimentos Sociais, de 7 Representantes do Conselho de Brasileiros no Exterior e mais de mil assinaturas individuais.

Ontem, 08/10, foi enviado um email contendo o Manifesto, as assinaturas e a Carta Resposta da Ouvidoria da Secretária de Políticas Para Mulheres (Brasil) aos órgãos e instituições que consideramos ter responsabilidade sobre o assunto e de quem portanto esperamos alguma atitude. São eles no Brasil: Embaixada e Consulado do Brasil em Portugal; Embratur, Ministério das Relações Exteriores e em Portugal: Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG); Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social e RTP Canal de Televisão.

Sabemos que esse é um pequenino passo diante de uma luta histórica que atravessa questões de género, raça e classe social, contudo ao receber o vosso apoio nos sentimos confiantes e fortes para continuar!

Mais uma vez nosso muito obrigada.
Coordenação do Manifesto.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Resposta da Ouvidoria SPM ao Manifesto contra o preconceito às mulheres brasileiras


Prezadas Senhoras,

Ao cumprimentá-las cordialmente, informamos que a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República recebeu cópia do Manifesto em repúdio ao preconceito contra as mulheres brasileiras em Portugal. Informamos que esta Secretaria enviou ofício nº 1917 ao Alto-Comissariado para Imigração e Diálogo Intercultural de Portugal encaminhando o manifesto, tendo em vista ocompromisso firmado entre os países através do Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Portuguesa para a Promoção da Igualdade de Gênero.
Ao Alto-Comissariado para Imigração e Diálogo Intercultural compete, de acordo com o DL 167/2007, entre outros:
a) Promover o acolhimento e a integração dos imigrantes e das minorias étnicas através da participação na concepção, desenvolvimento e coordenação de políticas públicas transversais, integradas e coerentes;
d) Combater todas as formas de discriminação em função da raça, cor, nacionalidade, origem étnica ou religião, através de acções positivas de sensibilização, educação e formação, bem como através do processamento das contra-ordenações previstas na lei;
g) Contribuir para a melhoria das condições de vida e de trabalho dos imigrantes em Portugal, de modo que seja proporcionada a sua integração com dignidade, em igualdade de oportunidades com todos os cidadãos nacionais;
i) Incentivar iniciativas da sociedade civil que visem o acolhimento e integração dos migrantes e minorias étnicas em Portugal;
j) Promover acções de sensibilização da opinião pública e a realização de estudos sobre as temáticas da imigração, minorias étnicas, diálogo intercultural e diálogo inter-religioso;
Informamos ainda que no mês de julho a Ouvidoria da SPM recebeu e-mail em que a AssociaçãoComuniDária se manifestou a respeito do mau tratamento que as brasileiras vem recebendo em Portugal, particularmente em relação à atuação da imprensa portuguesa que, por vezes, omite e reforça estigmas das mulheres brasileiras como prostitutas. A Associação se posicionou ainda contra o tratamento dado pela imprensa sobre as mortes de duas brasileiras: Jeniffer Viturino e Sandra Maria Cavalcante. À época a Ouvidoria encaminhou ofício à Ouvidoria Consular, órgão do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Em 22/08 a Ouvidoria Consular encaminhou resposta à SPM, informando que tomou conhecimento dos problemas relatados no manifesto em 2010, durante a Missão Interministerial de Mapeamento do Tráfico de Pessoas, e que desde então, iniciou providências como por exemplo a montagem de uma rede de assistência às cidadãs e a articulação para o monitoramento de notícias negativas sobre a comunidade feminina na mídia ibérica.
Assim sendo, nos colocamos à disposição para maiores informações.
Atenciosamente,
Ouvidoria
Secretaria de Políticas para as Mulheres
Presidência da República
F: (61)3411 4279 / 4299

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O preconceito como ele é: Depoimentos em primeira pessoa...

Em 29/09/2010 fui ao Shopping Amoreiras, em Lisboa, comprar um casaco de frio. Achei-o na loja C&A, por apenas 29,00€. Naquele momento os provadores estavam vazios, apenas eu e mais outras duas pessoas, que eram africanas, estavam no local. Durante todo o tempo que permaneci experimentando o casaco o segurança da loja esteve presente na porta dos provadores, como de plantão, a nos olhar de forma desconfiada.


A seguir fui ao caixa com o casaco efetuar a compra e para a minha surpresa a funcionária do caixa falou-me em voz baixa: Peço desculpas, mas recebi um telefonema do segurança e ele me pediu para a senhora abrir a sua mala e me mostrar. Disse ainda que o segurança achou que a minha bolsa estava muito "GORDA" e portanto, que deveria haver "ALGO" (leia-se: furto) dentro da mala. Levei um susto e me neguei a fazer o que estava sendo coagida (nesse momento o segurança já se aproximava com um olhar ameaçador). Chamei o responsável pela loja, me apresentei como estudante de doutoramento, e disse que eles não tinham nenhum direito de fazer aquilo e que eu entraria com um processo na justiça contra a empresa pela situação de humilhação, discriminação e invasão de privacidade, que havia sofrido. 


O funcionário se desculpou em nome da loja e em menos de uma semana recebi uma carta de reparação e desculpas da Direção da C&A, assumindo a culpabilidade pelo fato ocorrido. Eis o conteúdo da carta (resumido): "Desejamos em primeiro lugar apresentar as nossas desculpas pelos inconvenientes sofridos na nossa loja (...) lamentamos sinceramente este caso em particular e todos os transtornos que lhe causamos, gostaríamos de lhe garantir que o funcionário da empresa de segurança foi devidamente advertido e instruído para que situações como esta não se repita no futuro". Assinado por Ana Paula Lagarto - Store Manager - C&A Amoreiras.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O preconceito como ele é:

"Não alugo casas para brasileiros". Foi essa a resposta que ouvi da imobiliária A. Formigal quando tentava saber por telefone informações de um apartamento para alugar em Lisboa. Ainda argumentei: "isso é discriminação, é crime". Ouvi em alto e bom som a resposta "volte para a sua terra porque não precisamos de brasileiros aqui". Fui pessoalmente ao escritório da imobiliária para escrever no livro de reclamações*. Estávamos eu, uma amiga e o meu namorado. Acabamos sendo agredidos verbalmente e eu também fisicamente, com pontapés. Chamamos a polícia, que foi rápida e atenciosa. Formalizei a queixa na esquadra e na Comissão para a Igualdade e contra a  Discriminação Racial através da Associação de Apoio à Vítima (APAV). Vivo em Portugal há quase oito anos e felizmente é a primeira vez que me acontece um ato de discriminação tão frontal. Espero que a minha denúncia surta efeito porque gosto de viver aqui, sinto-me acolhida e acho que situações como essa precisam ser justamente punidas.


____________
* Nota: O Livro de Reclamações é um meio para o consumidor apresentar queixa. De acordo com o site da Deco Proteste "Quando algo não corre bem na prestação de um serviço ou na compra de um produto, o consumidor pode solicitar este livro e reclamar logo nesse local, sem nenhum encargo." http://www.deco.proteste.pt/direitos/um-livro-de-reclamacoes-em-cada-canto-s407841.htm



terça-feira, 4 de outubro de 2011

O preconceito como ele é: Depoimentos...

Vim a Portugal convidada para dar aulas em uma escola de artes em Lisboa. Apesar da aceitação por parte da maioria dos alunos, fui confrontada com uma situação que me incomodou bastante, pois pude perceber que fui avaliada e tive minha capacidade profissional posta em causa por conta da minha nacionalidade, por ser brasileira. Uma senhora portuguesa, de gênio bem difícil, foi durante todo o curso um grande desafio como aluna. E ainda gostava de repetir o fato de ter detestado uma viagem que fez ao Brasil, que achava todos os brasileiros preguiçosos. No final do semestre, sempre temos uma avaliação em grupo sobre o curso, onde cada aluno coloca  sua opinião a respeito do próprio processo de aprendizagem e também do curso de forma geral. A tal senhora disse que tinha gostado muito do curso e que eu a tinha feito rever os conceitos dela em relação aos brasileiros. Pois no início do semestre, quando soube que seria uma brasileira a dar aulas pensou em desistir pois achou que seria pura enrolação, pois não confiava nem um pouco em brasileiros...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O preconceito como ele é: Depoimentos*

 Começaremos uma série de depoimentos, se quiser colaborar, escreva para nosso e-mail: manifestobrasileiras@gmail.com

DEPOIMENTO DE ANA SILVA:
Talvez este texto seja uma forma de aliviar minha inquietação. Quem sabe é só uma forma de desabafo ou, quem sabe ainda, é uma forma de denunciar um crime. Essa história não é bonita, não é alegre...
Eu não aguentava mais o trabalho no restaurante. Eram 15 horas diárias de trabalho, em pé e sem hora para o almoço. Comíamos quando desse, muitas vezes em pé na cozinha porque não era permitido comer nas mesas em que os clientes comiam. Carregávamos muito peso, eram caixas e mais caixas de frutas que levávamos para a reposição. Não dava para continuar explorada. Fisicamente não suportava e psicologicamente estava arrasada.

Resolvi procurar outro emprego. Vi no jornal um anúncio para auxiliar administrativa. Como já tinha experiência em trabalhar em escritório no Brasil resolvi enviar currículo. Ainda pela manhã recebi resposta. Comemorei porque no contato marcava entrevista para o dia seguinte às 9h. Lá dizia endereço e ponto de referência. Maravilhoso, eu sabia chegar!
No dia seguinte acordei mais cedo e fui à entrevista. Fui atendida por um senhor com mais ou menos 30 anos, baixo, meio gordinho, com barba bem cuidada. A entrevista correu normalmente. Fiquei confiante que conseguiria aquele emprego. Sai de lá animada e certa que poderia ter esperança. Ganharia um pouco mais e ainda teria folga aos finais de semana. Um sonho!

Poucas horas depois o telefone toca:
- Sim! 
- Tô, É a …?
- Sim, é ela
- Aqui é o ... e gostaria de saber se você está mesmo disposta a trabalhar?
- Sim, estou.
- Olhe, os administradores querem alguém que possa sair. Estaria interessada, conhece mais alguém… uma amiga?
Comecei a notar que tinha algo errado, mas queria confirmar tudo.
- Não conheço muitas pessoas em Portugal.
- Os administradores pediram alguém que saia com eles.
- Como assim?
- Você sabe… (pausa). Alguém como você…
- Sair?
- É. Sair à noite com eles, não sei se você me entende... Querem uma acompanhante…
- Olhe, estou interessada no emprego.
- Só no emprego? Não queria mesmo sair com eles?
- Só no emprego.
- Ok. Eles querem alguém para sair, mas mesmo assim vou falar com eles para saber se aceitam só para o emprego
- Tchau
Foi ai que a ficha caiu. Percebi o que estava em jogo. Queriam-me para prostituta de luxo!
Fiquei apavorada porque já tinha ouvido muitas histórias de tráfico de mulheres. Hoje tenho medo. Quando o telefone toca e não conheço o número me bate um desespero. Eles ficaram com meu curriculum e lá tem foto, endereço, e-mail e telefone. Quando vejo um executivo tenho medo de encontrar aquele rosto.
Algumas pessoas mais próximas aconselharam-me fazer uma denúncia. Uma amiga chegou a ligar para a polícia, mas eles disseram que eu quem tinha que fazer a denúncia. Por medo, calei.



DEPOIMENTO DE MARIA SANTOS: 
 
Recém chegada a Portugal. Feliz. Eu e meu marido. Ambos viemos fazer o doutoramento. Renda: bolsa de estudos do Brasil. Fomos procurar apartamento. Olhamos pela internet, achamos vários. Dirigimo-nos para as imobiliárias que já tínhamos visto o site. Precisávamos de contrato, a bolsa exigia. Isso restringia a procura, porque há muitos proprietários que alugam diretamente sem contrato e mais barato. Primeira imobiliária, os apartamentos que havíamos selecionado pela internet estavam indisponíveis. 
Segunda imobiliária, nada novamente. Perguntei: "Senhor, mas os que vimos hoje mesmo no site da imobiliária?" Ele friamente respondeu: "Já foram arrendados".
Terceira imobiliária e finalmente fomos atendidos de verdade. Uma moça (observação, cuidado com a palavra moça, os portugueses detestam) muito simpática puxou três cadeiras e sentamos para olhar no computador junto com ela. Fomos vendo os cadastros, até que adorei um apartamento. Ela clicou para ver mais detalhes e lá estava escrito: “Não arrenda para brasileiras”. Essa imagem não sai da minha cabeça até hoje. A moça rapidamente fechou a página, para que não víssemos (mas eu já havia lido) e disse: "sabem de uma coisa, não vamos perder tempo a verificar os registos, vou ligar para um ótimo”. Ligou e disse “Senhora Inês, tenho aqui um casalinho de brasileiros, estudantes, que acho que são ótimos para seu apartamento do Lumiar”. A senhora aceitou em nos mostrar. A moça simpática da imobiliária nos levou com seu carro até lá. Era longe, muito diferente do lugar que pensávamos morar. Mas já haviam se passado 10 dias de procura e gasto em hotel, precisávamos de endereço para ter o cartão de contribuinte, precisávamos do contribuinte para ter conta no banco, precisávamos da conta para receber a bolsa… Ficamos com o apartamento, o qual não tem acesso ao metro (20 minutos de caminhada para chegar ao metro do Lumiar) e o valor da renda é maior do que aqueles que olhávamos na internet e eram bem localizados e… “já estavam todos alugados” ou, na verdade, não queriam brasileiras.
 
* Os nomes foram alterados, para manter a privacidade das depoentes.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sobre a Marca do nosso Manifesto

A Marca do nosso Manifesto faz parte do trabalho artístico de Ana Letícia Barreto. Ver mais em: http://brazucaemportugal.wordpress.com/

Repercussões do Manifesto:

Jornal Público: http://www.publico.pt/Sociedade/manifesto-repudia-preconceito-contra-mulheres-brasileiras-1512751

Jornal Destak: http://www.destak.pt/artigo/106632-manifesto-contesta-conotacao-de-mulher-brasileira-a-prostituicao

TVI: http://www.tvi24.iol.pt/esta-e-boca/manifesto-brasileiras-mulheres-prostituicao-sexo-tvi24/1281965-4087.html

Vi O Mundo: http://www.viomundo.com.br/denuncias/o-combate-ao-preconceito-contra-as-brasileiras-em-portugal.html

Luís Nassif Online: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/brasileiras-protestam-contra-estigma-da-hipersexualidade

Blog da Dilma: http://dilma13.blogspot.com/2011/09/manifesto-mulheres-brasileiras.html

Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/politica/prostituta-brasileira-e-sucesso-na-tv-portuguesa

Esquerda.net: http://www.esquerda.net/artigo/petição-condena-preconceito-dirigido-às-mulheres-brasileiras

Valor econômico: http://www.valor.com.br/cultura/1091536/chega-de-preconceito

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Organizações e Movimentos Sociais que apoiam e subscrevem o Manifesto:

  • Associação ComuniDária - comunidade solidária à pessoa imigrante, sensível às questões de género e com iniciativas diversificadas de integração.  
  • Observatório das Representações de Género nos Média, UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta. 
  • Movimento SlutWalk Lisboa. 
  • Coordenação Portuguesa da Marcha Mundial de Mulheres. 
  • Casa do Brasil de Lisboa. 
  • Nucleo de Estudos e Orientação Intercultural da Universidade Federal de São Paulo.
  • Movimento Negro Unificado, coordenação Rio Grande do Sul. 
  • APEB - Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros em Coimbra.
  • Conselheiro Titular, Região Europa, do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior (CRBE) - Flávio Carvalho. 
  • SOS Racismo - Portugal.
  • Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Mulher e Gênero da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NIEM-UFRGS).
    • Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios - NIEM - Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
    • Associação dos Imigrantes nos Açores (AIPA).
    • Conselheiro Titular, Região América do Sul e Central, do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior (CRBE) - Romildo Maia.
    • Conselheiro Titular, Região América do Sul e Central, do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior (CRBE) - João Paulo Ribeiro.
    • Conselheiro Suplente, Região América do Norte e Caribe, do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior (CRBE) - Sérgio Mello.
    • Conselheiro Titular, Região América do Norte e Caribe, do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior (CRBE) - Silair de Almeida.
    • Conselheiro Titular, Região América do Norte e Caribe, do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior (CRBE) - Ronney Oliveira.
    • Conselheiro Titular, Região Europa, do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior (CRBE) - Laércio da Silva.
    • Marcha das Vadias/Movimento SlutWalk Salvador. 
    • Não te Prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais de Coimbra.
    • FERVE - Fartos/as d'Estes Recibos Verdes.
    • União Brasileira de Mulheres - UBM.
    •  AJPaz - Acção para a Justiça e Paz
    •  Comitê Paraibano de Educação em Direitos Huamanos
    • Núcleo de Cidadania e Direitos Huamnos UFPB
    • Articulação de Mulheres Negras Brasileiras AMNB
    • ALCC As. Lusofonia Cultura e Cidadania


                      domingo, 18 de setembro de 2011

                      Anexos


                      Anexo 1
                      Programa de Animação “Café Central” da RTP


                      Anexo 2
                      Capa da Revista Focos, edição 565/2010, a qual apresenta as mulheres brasileiras como sedutoras e as representa com uma imagem cujo destaque é a bunda.
                       


                      Anexo 3
                      Reportagem do Diário de Notícias, edição do dia 26/06/2011, sobre o movimento SlutWalk Lisboa, a qual descontextualizou uma imagem, acabando por reforçar os estigmas contra a mulher brasileira, fazendo exatamente o contrário do objetivo do movimento.



                      Anexo 4
                      Publicidade do Ginásio Holmes Place- Health Club, atual, sobre uma modalidade de aulas intitulada “Made in Brazil”, a qual é representada por uma imagem cujo destaque é a bunda.
                       
                       

                      Anexo 5
                      Publicidade da Agência de Viagens Abreu, na Revista B de Brasil, edição inverno de 2001, cuja a imagem do Brasil é uma mulher e a mensagem da publicidade é uma referência direta aos descobrimentos e a disponibilidade, aos portugueses, do que havia e há no Brasil.
                       
                       

                      Anexo 6
                      Episódio do programa de humor "Mini-Malucos do Riso", da SIC, no qual afirmam que no Brasil só há prostitutas e futebolistas.

                      Manifesto Mulheres Brasileiras


                      Manifesto em repúdio ao preconceito contra as mulheres brasileiras em Portugal

                      Vimos por meio deste, manifestar nosso repúdio ao preconceito contra as mulheres brasileiras em Portugal e exigir que providências sejam tomadas por parte das autoridades competentes.

                      Concretamente, apontamos a comunicação social portuguesa e a forma como, insistentemente, tem construído e reproduzido o estigma de hipersexualidade das mulheres brasileiras. Este estigma é uma violência simbólica e transforma-se em violência física, psicológica, moral e sexual. Diversos trabalhos de investigação, bem como o trabalho de diversas organizações da sociedade civil, têm demonstrado como as mulheres brasileiras são constantemente vítimas de diversos tipos de violência em Portugal.

                      O estigma da hipersexualidade remonta aos imaginários coloniais que construíam as mulheres das colônias como objetos sexuais, escravas sexuais, e marcadas por uma sexualidade exótica e bizarra. Cita-se, por exemplo, a triste experiência da sul-africana Saartjie Baartman, exposta na Europa, no século XIX, como símbolo de uma sexualidade anormal. Em Portugal, esses imaginários coloniais, infelizmente, ainda são reproduzidos pela comunicação social.

                      Teríamos muitos exemplos a citar, mas focaremos no mais recente, o qual motivou um grupo de em torno de 140 mulheres e homens, de diferentes nacionalidades, a mobilizarem-se, a partir das redes sociais, para escrever este manifesto e conseguir apoio de diferentes organizações da sociedade civil. Trata-se da personagem “Gina”, do Programa de Animação “Café Central” da RTP (Rádio Televisão Portuguesa). A personagem é a única mulher do programa, a qual, devido ao forte sotaque brasileiro, quer representar a mulher brasileira imigrante em Portugal. A personagem é retratada como prostituta e maníaca sexual, alvo dos personagens masculinos do programa. Trata-se de um desrespeito às mulheres brasileiras, que pode ser considerado racismo, pois inferioriza, essencializa e estigmatiza essas mulheres por supostas características fenotípicas, comportamentais e culturais comuns. Trata-se de um desrespeito a todas as mulheres, pois ironiza/escarnece sua sexualidade, sua possibilidade de exercer uma sexualidade livre, o que pode ser considerado machismo e sexismo. Trata-se, ainda, de um desrespeito às profissionais do sexo, pois ironiza o seu trabalho, transformando-o em símbolo de deboche/piada/anedota, sendo que não é um trabalho criminalizado em Portugal, portanto, é um direito exercê-lo livre de estigmas. No anexo 1 desta carta estão: o vídeo de um dos episódios (na versão on-line), e a transcrição de um dos episódios, bem como, a imagem dos personagens (na versão impressa). Destacamos que o fato é agravado por se tratar de uma emissora pública, a qual em hipótese alguma deveria difundir valores que ferem o direito das mulheres e da dignidade humana.

                      Além deste caso que envolve a televisão, existem muitos outros em revistas, jornais e publicidades, que exemplificam a disseminação do estigma em vários meios de comunicação de massa e cujos exemplos seguem em anexo. Seja qual for o meio de comunicação utilizado, é constante a representação estereotipada da mulher brasileira como objeto sexual, o que acaba por interferir na forma como as imigrantes brasileiras são percebidas e tratadas dentro da sociedade portuguesa. 

                      -Anexo 2: a capa da Revista Focos, edição 565/2010, a qual apresenta as mulheres brasileiras como sedutoras e as representa com uma imagem cujo destaque é a bunda;
                      -Anexo 3: a reportagem do Diário de Notícias, edição do dia  26/06/2011, sobre o movimento SlutWalk Lisboa, a qual descontextualizou uma imagem, acabando por reforçar os estigmas contra a mulher brasileira, fazendo exatamente o contrário do objetivo do movimento;
                      -Anexo 4:  publicidade do Ginásio Holmes Place- Health Club, atual, sobre uma modalidade de aulas intitulada “Made in Brazil”, a qual é representada por uma imagem cujo destaque é a bunda;
                      -Anexo 5: publicidade da Agência de Viagens Abreu, na Revista B de Brasil, edição inverno de 2001, cuja a imagem do Brasil é uma mulher e a mensagem da publicidade é uma referência direta aos descobrimentos e a disponibilidade, aos portugueses, do que havia e há no Brasil.
                      -Anexo 6: episódio do programa de humor "Mini-Malucos do Riso", da SIC, no qual afirmam que no Brasil só há prostitutas e futebolistas.

                      Exigimos, das autoridades competentes, que se faça cumprir a “CEDAW – Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres”, da qual tanto Portugal, como o Brasil, são signatários. Destacamos, também, o “Memorando de Entendimento entre Brasil e Portugal para a Promoção da Igualdade de Gênero”, no qual consta que estes países estão "Resolvidos a conjugar esforços para avançar na implementação das medidas necessárias para a eliminação da discriminação contra a mulher em ambos os países".